Chegamos a mais um final de ano e gostaríamos, em primeiro lugar, de agradecer nossos clientes, colaboradores e funcionários.

Foi um ano bastante atípico, tanto no Brasil como no exterior, com impactos inacreditáveis no mercado financeiro.

Como sempre, começamos com a nossa tradicional previsão de que todos os analistas e economistas errarão suas previsões para 2017. Lembrando que no final do ano passado, era esperada uma queda no PIB (-2,95%), alta na inflação (6,87%), disparada no dólar (R$4,21) e queda da Bolsa. O que aconteceu foi uma queda de 3,50% do PIB (bem pior que o esperado), 6,40% de IPCA (melhor que o esperado), dólar a R$3,37 (muito melhor que o esperado) e uma alta da bolsa.

Para o ano de 2017, são esperados uma alta no PIB de 0,50%, R$3,50/dólar a e inflação a 4.85%. Aguardemos!

Tantas mentes brilhantes, com experiência e bastante recursos, usando programas sofisticados de computador não conseguem acertar dados macro, então não seremos nós que vamos tentar. Apesar disso, é importante ter em mente uma expectativa para o próximo ano e é o que faremos nas próximas linhas, juntamente com um apanhado dos acontecimentos mais relevantes do ano que passou.

Como mencionamos, o ano de 2016 foi bastante atípico. Ele começou com uma queda expressiva na Bolsa de Valores no Brasil, disparada do dólar e piora em todos os indicadores. O Brasil realmente parou com a Lava-Jato e a expectativa de impeachment da então presidente Dilma. À medida que o impeachment ia ficando mais claro, mais o dólar caia, a Bolsa subia e os indicadores melhoravam.

Após a confirmação do mesmo, houve um alívio nos mercados, que então pararam para realmente analisar a situação. Como mencionamos no nosso blog, ficamos muito felizes com o impeachment da presidente, mas os problemas do país ainda estão aí. Embora tenham aparentemente parado de piorar, instabilidades ainda persistem no cenário político nacional e uma cassação do chapa Dilma-Temer ainda é uma possibilidade.

A Bolsa não tomou conhecimento e deu um salto da mínima de 37.511 em janeiro para a máxima de 64.924 pontos, perto do final do ano. O dólar acompanhou e caiu junto (alta do Real).

Na Europa, o grande evento do ano foi o Brexit, que surpreendeu a quase todos. Segundo a grande mídia (totalmente tendenciosa), eram esperadas uma forte reação nos mercados, quebra de empresas na Inglaterra e até mesmo a Terceira Guerra Mundial!!! A guerra de desinformação foi realmente brutal, mas o Brexit acabou vencendo nas urnas. A Libra Esterlina acabou sendo punida, o ouro subiu para a estratosfera na Inglaterra e mais desvalorizações estão sendo esperadas. O Brexit já foi votado, mas ainda não aconteceu. É um risco e tanto para os mercados e vamos monitorar essa história de perto.

Na Itália, no final do ano, o Referendo para a mudança da Constituição não passou. Os mercados reagiram com desconfiança por quase 5 horas, depois voltaram a subir (estamos nos perguntando o que precisa acontecer para as Bolsas caírem). O grande problema da Itália, para nós, são os bancos. O Monte dei Paschi, totalmente descapitalizado, é a primeira e maior ameaça ao sistema bancário italiano. Ele é a maior, mas não a única. Vários outros estão na linha e vamos ter problemas sérios mais à frente.

Mais óbvios ainda do que os bancos italianos são os bancos espanhóis e portugueses. Recomendamos a todos que fiquem longe desses…

Além disso, a imigração desenfreada para a Europa está causando sérios atritos entre os nativos e os recém-chegados. A cada dia tomamos conhecimento de uma história mais preocupante do que a outra, enquanto observamos uma corrosão nos valores do Ocidente.

O que nos leva aos EUA, onde outra grande surpresa para os mercados aconteceu nas eleições: a vitória de Donald Trump, considerado por muitos como “A verdadeira ameaça ao mundo”. O que vimos, após as eleições, foi exatamente o contrário: Bolsas disparando nos EUA, dólar mais forte com relação a várias moedas, aumento da confiança do consumidor, etc.

O novo presidente vem com o programa de fazer os EUA uma potência novamente, controlando a imigração, investindo em infraestrutura, reduzindo impostos e burocracia e protegendo o mercado.

Ainda temos dúvidas de como o governo conseguirá aprovar um orçamento tão deficitário numa economia que já tem a dívida (declarada)/PIB acima de 100% e os juros subindo, apesar do Congresso e Senado serem Republicanos. O dólar forte é o tema do ano para os analistas do mercado, mas, a julgar pelo track record deles, preferimos observar por enquanto. Na nossa visão, o dólar não deve se fortalecer muito mais (Dollar Index), apesar das altas nas taxas de juros (mais uma é esperada para o fim do primeiro trimestre).

No Japão, mais uma vez, temos um Banco Central desesperado para fazer com que a Bolsa suba. Pelo segundo ano consecutivo, o BoJ foi o maior comprador de ações japonesas (através de ETFs e Fundos). Achamos essa ideia um completo absurdo e, apesar de começarmos a ver algum valor nas ações japonesas, preferimos monitorar com cuidado a situação.

Vale lembrar que os bonds japoneses atingiram seu maior valor esse ano, com uma taxa de juros negativa!!! O mesmo aconteceu na Europa, em países como a Alemanha, Suécia, Suíça e Dinamarca nos títulos curtos. Já falamos bastante nesse blog sobre o absurdo que é ter taxa de juros em território negativo. Os investidores estão emprestando dinheiro a governos falidos, esperando receber ainda menos que emprestaram – não faz sentido algum pra nós da L2 Capital!! Como não podemos shortear esses bonds (por incrível que pareça, o carrego é positivo), preferimos ficar de fora.

A bolha chinesa continua aumentando e o que muda são quais ativos ficam ainda mais caros com o passar do tempo. Uma hora é a Bolsa, outra hora os imóveis, depois as commodities e o ciclo se repete. A moeda chinesa continua se desvalorizando e essa semana chegou a passar momentaneamente dos  7 CNY/USD. Lembrando que, no ano passado, houve um pânico quando a moeda chinesa se desvalorizou 1,90% para 6,32CNY/USD – e o governo prometeu que não haveria mais desvalorização (claro, devemos sempre confiar nos governos). Agora a moeda já se desvalorizou mais de 10% e ninguém fala mais nada…

Achamos que uma aposta razoável é a de que a China será obrigada a desvalorizar o yuan ainda mais em 2017. O sistema bancário chinês está em frangalhos e será necessária uma recapitalização dos bancos para evitar um desastre. Obviamente, isso trará consequências devastadoras para os países asiáticos que competem com a China nas exportações, para o Brasil e outros exportadores de commodities e ainda pode criar um atrito maior com os EUA e o novo presidente, cujas promessas têm forte viés protecionista.

Além disso, tensões militares são esperadas e uma escalada pode significar o caos. A China é um grande risco para os mercados em 2017.

A Índia surpreendeu logo após as eleições americanas, banindo as notas de 1.000 e 500 rúpias. Segundo o governo indiano, essa medida, que trouxe consequências horríveis para toda a população indiana, é para o bem de todos (já não dissemos que devemos confiar cegamente nos governos?) e para acabar com o mercado negro. Obviamente, além de não acabar com o mercado negro, essa medida está causando o caos na Índia. Os indianos simplesmente começaram a adotar o ouro novamente e o mesmo já está sendo negociado a mais de USD 2.000/onça, ou seja, com um prêmio absurdo em relação ao ouro nos EUA.

A guerra ao dinheiro não parou por aí. Já pararam de emitir as notas de EUR500 e estão também querendo banir as notas de A$100 e USD100. Se levássemos a Venezuela a sério, também mencionaríamos que o presidente Maduro também baniu as notas com denominações mais altas, somente para voltar atrás em seguida e aceitá-las novamente. Além disso, o Citibank da Austrália não está mais aceitando dinheiro e o JPMorgan impôs um limite de USD1,000 por retirada. Talvez a notícia mais chocante nesse tema venha da Suécia, que prometeu ter, em até dois anos, 100% da moeda em forma digital!

Canadá e Austrália estão vivendo bolhas incríveis nos mercados imobiliários, grande parte devido aos chineses. Por serem grandes exportadores de commodities, ambos ficam vulneráveis em caso de uma crise na China, já que os preços dos seus artigos de exportação desmoronariam e faltariam também compradores do próprio gigante asiático para os imóveis naqueles países.

No final do seu mandato, o presidente dos EUA, Barack Obama, subiu o tom contra a Rússia e Israel. Achamos que o novo presidente deve reestabelecer um bom relacionamento com os dois e, com relação à Rússia, pelo menos no começo.

Esse ano, vimos uma valorização forte do ouro no mundo inteiro, devido às incertezas mil e ao baixo preço do metal com relação ao dinheiro de papel (que pode ser impresso sem limites). A Rússia, China, Índia, Turquia, Irã, Inglaterra e Suíça continuaram a comprar o metal amarelo e sugerimos que nossos clientes façam o mesmo. Desde a eleição de Trump, o Dollar Index teve elevada alta, o que prejudicou a performance do ouro, derrubando-o das máximas do ano. No entanto, ele ainda fechou o ano com retorno positivo e acreditamos que a tese de investimento se fortaleceu. É importante lembrar que nada sobe de forma constantemente linear e correções periódicas como essas podem acontecer.

Existem várias incertezas no momento e achamos prudente ter uma parte dos recursos em ouro físico e caixa. Achamos as ações nos EUA supervalorizadas, assim como os bonds. No caso desses últimos (bonds), acreditamos que possa haver uma alta moderada agora no começo do ano, principalmente nos títulos soberanos de 10 anos.

Tivemos uma rentabilidade fantástica nos portfolios dos EUA e Austrália, com altas de 15% e 25% respectivamente. Aqui no Brasil, os portfolios subiram entre 110% e 130% do CDI.

Mais uma vez, gostaríamos de agradecer a todos e desejar-lhes um feliz 2017, repleto de alegrias, sucessos e saúde.

Comentários

    César Lobo
    29 de December de 2016

    Olá Marcelo,

    Conforme conversamos anteriormente, acredito que os yields americanos, ao menos no curto prazo irão cair gerando uma alta dos preços dos US Treasuries. Contudo, pensando em um prazo maior (12 meses) acredito que possa ocorrer um cenário em que os títulos soberanos americanos(e talvez alemães) passem por uma alta(novamente uma queda dos yields, possivelmente ficando abaixo das mínimas de julho/2016) enquanto títulos soberanos de outros países(emergentes, Austrália, Canadá e periferia européia), títulos corporativos(investment-graded e junk), structured credit e munis sejam liquidados(alta dos yields, queda nos preços). Minha grande dúvida é como se comportariam os yields japoneses e suíços.

    Creio que uma potencial grande desvalorização do yuan poderia ser um catalyst para esse cenário.

    Sendo assim, concordo parcialmente com as teses de Ray Dalio, Paul Singer e Jeff Gundlach. Já tivemos o topo do "Bond Bull Market", exceto para US Treasuries(e talvez Bunds - melhor tê-las do que qualquer outro tipo de renda fixa européia caso a EU acabe; nesse caso também teríamos de levar em conta o reaparecimento do Marco Alemão, algo que seria um grande fator positivo para o preço de tais bonds)

    Você acredita que exista uma probabilidade para esse cenário?

    Abraço,
    César

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