Títulos do governo dos EUA de 10 anos

Quem nos acompanha sabe que achávamos os títulos do governo norte-americano de 10 anos um pouco caros, tendo atingido a máxima em julho, quando o yield foi de apenas 1.36% a.a.

Desde o resultado das eleições nos EUA, esses títulos tiveram uma queda apreciável, de mais de 6%.

Como investimentos em infraestrutura irão aumentar ainda mais a alavancagem da já alavancada economia americana, acreditamos que um bom investimento no momento (e totalmente contrário ao esperado) seja os títulos do governo norte-americano de 10 anos. Não achamos que chegaremos às máximas de julho, mas uma certa apreciação é esperada (por nós).

O dólar americano (USD) não necessariamente fica mais forte com o aumento da taxa de juros. Pelo menos, é isso que a história nos mostra.

Achamos que o dólar pode devolver parte dos ganhos nas próximas semanas e o ouro também pode se mostrar um bom investimento nesse período.

Comentários

    César Lobo
    26 de December de 2016

    Olá Marcelo,

    Acredito que esse movimento de alta nos yields americanos é "self-defeating". Com os yields americanos mais altos e com o usd mais forte(mesmo que por pouco tempo), grande pressão é criada nas economias emergentes e na própria economia americana.

    Já estamos vendo novamente "cracks" no sistema chinês, com grande aumento dos capital outflows e com a alta das taxas Hibor/Shibor. Resta saber se o PBOC vai pressionar o acelerador do crédito igual a fev/2016. Acho que a eleição de Trump reduz essa probabilidade, ainda mais depois da indicação de Pete Navarro. Outros países emergentes como Brasil, África do Sul e Arábia Saudita(quebra do peg usd/sar?) também terão muitos problemas uma vez que o dólar mais forte e uma China menos voraz por crescimento pressionarão bastante o preço das commodities(até o petróleo, que os países da OPEC "entraram em acordo" para cortar a produção, mas parece que se esqueceram dos produtores americanos de shale). Outra questão para as economias emergentes é sua dívida em USD, que foi levada a grandes níveis pela era do QE. Contudo a dívida eventualmente terá de ser paga, e a situação atual, em que temos uma shortage de USD no eurodollar/funding markets(algo que poderia ser piorado pelo projeto de repatriação de capital de Trump) é bastante prejudicial para os emergentes.

    Outros países "não tão" desenvolvidos como Austrália e Canadá terão problemas já que seus principais produtos de exportação(metais industriais e petróleo e derivados)estarão perdendo valor mesmo com a desvalorização do AUD e do CAD. Vale lembrar também que esses países tem grandes bolhas no setor de real estate. Algo que torna o short dos bancos australianos e canadenses difícil são os grandes dividendos que tais bancos pagam(em situação de stress podem ser cortados, isso pode ser um bom catalyst para a posição)

    Já para a economia americana, o dólar mais forte e taxas de juros mais altas são deflacionárias e prejudiciais para a economia. Como o consumidor médio americano, apesar de confiante está se desalavancando, acho pouco provável que voltemos a ver a pujante "consumer economy" dos EUA. Se olharmos para os dados semanais da Mortgage Bankers Association já pode-se perceber que desde a baixa máxima nos yields em julho, o mercado de casas vem se desaquecendo. Além disso do mercado de auto loans, peer to peer loans, student debt loans, credit card loans e de commercial REITS/CMBS nos dão pistas(structured credit/credit derivatives sempre dando pistas valiosas) de que temos questões pendentes na economia dos EUA. Dessa forma o mantra repetido pela mídia de que "lower commodity are goood for the consumer" novamente será provado equivocado. As exportações americanas também serão impactadas pelo Usd mais forte e os earnings de multinacionais serão impactados. Dado que tanto as companhias high-yield quanto investment graded estão com níveis recordes de (DEBT/EBITDA) (interessantemente toda essa dívida foi usada para financial engineering, ou seja, share buybacks, M&A e dividend increases - Creio que isso é um dos fatores para o backlash político que vimos em 2016 e continuaremos a ver em 2017) essa dinâmica torna-se ainda mais destrutiva. Interessantemente isso me lembra muito da segunda metade de 2015. Acredito que o Fed também será bem menos dovish, algo que será um baque para os "equity guys" que já estão viciados nas drogas ZIRP e QE. Creio que as reformas de Trump demorarão mais do que o esperado e o presidente pode esperar resistência das alas mais economicamente conservadoras do partido republicano. Acho que a probabilidade de que certa regulações como Dodd-Frank e Volcker Rule sejam repelidas é muito baixa. Além disso medidas como o aumento dos gastos com infraestrutura, corte de impostos, regulação da imigração e o protecionismo são bastante inflacionários, algo bastante negativo para PE's em geral. Acredito bastante no que o Jim Chanos falou em uma estrevista recente: "Almost all stocks are going up, mostly because of the belief of lower taxation. But after Obama’s election, most stocks went down and kept going down until the following March — and then they tripled! So I wouldn’t read a lot into the first month or two."

    Enquanto isso a situação no Japão e na Europa "parece menos tensa". O yen e o euro mais desvalorizados favorecem as exportações e facilitam pressões inflacionárias. Contudo tanto o BOJ
    quanto o ECB parecem estar totalmente sem ferramentas. O yield curve control de Kuroda(e a compra de etf's) e a compra de corporate bonds de Draghi me parecem ser atos de desespero. Na Europa o risco político é real e a possibilidade de dissolução da União Européia me parece ter uma probabilidade maior do que o esperado(principalmente se houver uma continuação dos ataques terroristas). Outro fator importante na situação européia são os bancos, que depois da crise de 2012 ainda não foram plenamente recapitalizados. Também tem-se a monstruosa quantia de derivativos(DB e CS, e agora o Citi está absorvendo parte da posição(?!))que está sendo "backed" por uma quantidade cada vez menor de colateral. A Alemanha, o motor por trás da Europa e da união européia também está altamente ligada a China. Dessa forma um hard-landing chinês, induzido ou não por Beijing seria altamente negativo para a europa. Com yields mais altos o net interest margin dos bancos globais aumentará, o que fará com que os bancos tendam emprestem mais dinheiro algo que pode impulsionar o crescimento. Mas será que isso já não está sendo descontado pelo mercado? E se as economias globais não conseguirem lidar com juros mais altos? Já Japão trava uma batalha invencível contra a cultura e a pirâmide demográfica do país.

    Resta saber até quando continua esse "upswing" nos dados econômicos globais. Em uma perspectiva de "rate of change" acho que ela irá começar a fraquejar, mas é possível que os dados continuem a vir acima do esperado(53.5 parece ser um nível importante no US ISM Manufacturing PMI). Posteriormente teremos uma inversão e os dados irão piorar. Essa dinâmica será ditada por essa alta exacerbada dos yields globais.

    Enfim: Acredito que em 2017 poderemos ver ouro, yen e usd subindo ao mesmo tempo, juntamente com os preços dos US treasuries(com um bull flattening da yield curve)

    Sob uma perspectiva multi-asset class alguns trades que creio serem interessantes:

    Fixed Income/Bonds/Interest Rates/ Credit/Debt:
    1-Long TLT/TMF
    2-Long CDS(Portugal, Italy, Ireland, France, Spain, Germany, Brazil, China, Saudi Arabia, Canada, Australia and Japan)
    3- Long Eurodollar Futures
    4- Short EMCB and JNK (ETF'S)

    Currencies:
    1-Long JPY crosses(or FXY- ETF'S)
    2-Long USD crosses(except usdjpy and usdchf) on a pull-back
    3-Short EURCHF, GBPCHF
    4-SHORT EURGBP
    5-Long CHFPLN
    6-SHORT USDSEK

    Commodities:
    1-Short Industrial Metals(specially copper - via etf FTRI)
    2-Short Oil
    3-Natural Gas Spreads(ugaz and ung - etfs)
    4-Long Uranium
    5-Long Agricultural Commodities(etf - PAGG)
    6-Long Gold via junior miners to normal miners spread
    7-Long Silver(long uslv/short slv(3 times the sizing of the other position)

    Index/Index Futures/Equities:
    1-Long Fibria
    2-Short Tsla
    3-Long XLU/UPW
    4-Short TVIX/ Long VXZ (sizing: 20%/80%)

    Abraço e desde já agradeço pela atenção,
    César
    +55 31 999287781

    0
    0
      Marcelo Lopez
      26 de December de 2016

      Excelentes comentários, César. Muito obrigado pela sua participação.
      Abs

      0
      0
    César Lobo
    26 de December de 2016

    Esqueci de mencionar outras ideias na parte de equities:
    5- Short CAT
    6- Short DXJ
    7- Short DXGE
    8- Vários mercados emergentes também são bons candidatos para short positions, mas creio que a índia é potencialmente um bom target, principalmente devido as questões vinculadas a desmonetização e ao fato de que o país é um crowded long em termos de emergentes

    0
    0

Deixe seu comentário

Todos os campos são obrigatórios
Pesquisar
Publicações Recentes

PODCAST – Jesse Redmond – Cannabis

Neste episódio, Marcelo Lopez teve uma conversa muito interessante com Jesse Redmond, Head de Cannabis da Water Tower Research. Jesse discutiu a situação atual do mercado de cannabis nos EUA, os possíveis gatilhos e as perspectivas de investimento. Redmond também explicou o papel que os estados desempenham neste universo, os catalisadores políticos existentes, incluindo a SAFE Banking Act, revisão de cronograma, questões relacionadas a impostos e o que esperar do memorando de Garland.

Continuar lendo

Podcast #36: Jim Grant – Global Markets

Neste episódio, Marcelo Lopez teve uma conversa muito interessante com Jim Grant, fundador e editor do Grant’s Interest Rate Observer. Jim falou sobre os muitos riscos que estão presentes nos mercados hoje, de private equity a títulos de alto rendimento. Além disso, Jim deu sua opinião sobre taxas de juros e inflação e seus possíveis impactos na economia. Ele também nos deu palestras sobre sua commodity preferida, o ouro, e falou sobre energia nuclear e urânio. Por último, mas não menos importante, ele nos deixou 3 excelentes recomendações de livros.

Continuar lendo

180º

Em setembro de 2018, escrevi um artigo para o InfoMoney intitulado “Cannabis: só doidão investe”. Nele, falava sobre a Tilray, empresa do setor de cannabis

Continuar lendo
Sem categoria

Energia Limpa, sim senhor!

Essa semana fomos surpreendidos por temperaturas muito abaixo do normal até mesmo para essa época do ano em várias regiões dos EUA, com destaque para

Continuar lendo

Dev by

É recomendada ao investidor a leitura cuidadosa do prospecto e do regulamento ao aplicar os seus recursos. A L2 Capital Partners não comercializa cotas de fundos e/ou clubes de investimento ou qualquer ativo financeiro. Conheça nossa Política de Voto.