De acordo com uma matéria divulgada há pouco pela Bloomberg, a dívida corporativa atingiu níveis sem precedentes: 29 trilhões de dólares!!!

O que mais chama a atenção, no entanto, é a constatação feita por um relatório do Citigroup, de que um terço das corporações (num universo de mais de 1600 empresas que fazem parte do MSCI World Index) não está conseguindo gerar retornos sobre o capital investido (ROIC) superiores ao próprio custo de capital. Ou seja, essas empresas não estão sendo capazes de servir a dívida.

Resultado de anos de juros zero e excesso de liquidez no mercado, o endividamento corporativo como um todo já atinge mais de 3 vezes o EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização), o maior em 12 anos.

Ainda mais alarmante é o fato de que quase 4 trilhões de dólares da dívida contraída foram utilizados para operações de M&A, buybacks e pagamentos de dividendos, que embora possam ter momentaneamente efeito positivo no valor das ações, na verdade, não significam melhoria na produtividade, eficiência e geração de caixa.

Esse foi um dos principais motivos pelos quais as Bolsas continuaram subindo: recompra de ações e M&A! Isso não pode ter um final feliz! As empresas, ao invés de usarem o caixa para modernizarem as plantas, investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), para criarem uma base sólida para crescimento e competição, usaram recursos de dívida barata para aumentarem os retornos dos acionistas e do próprio management, que recebe bônus gordos de acordo com o preço das ações de suas empresas.

Esse é mais um mal da manipulação ao extremo das taxas de juros pelos Bancos Centrais. Quando a bolha estourar, vão dizer que foi a ganância das empresas que causou mais uma crise, esquecendo-se de que a bolha foi criada pela política monetária dos BCs. Claro, já sabemos qual será o remédio proposto: mais burocracia, mais controle do Estado e menos liberdade.

As Bolsas no mundo inteiro estão despencando e a razão dada pela mídia é uma só: problemas na China! Apesar de reconhecermos o enorme perigo da China e uma bolha enorme nesse país (coisa que já tratamos nesse blog inúmeras vezes em 2014 e início de 2015), não achamos que a China seja a única culpada. Aliás, tampouco achamos que a China seja a maior culpada. A grande bolha mundial está sendo estourada pela política monetária do FED, que após quase 10 anos, subiu as taxas de juros em meros 0.25%. O nível de endividamento está tão grande que as empresas mal podem suportar esse acréscimo.

No nosso post do dia 14 dezembro de 2015, sob o título “A descida vai ser longa” (https://l2capital.com.br/pt/apertem-os-cintos-a-descida-vai-ser-longa/) já alertávamos sobre a iminente queda dos mercados.  Ela não demorou a chegar.

A consequência desse cenário de elevado endividamento numa economia cambaleante nós já sabemos: para honrarem suas dívidas, as empresas terão que cortar custos e pessoal, o que por sua vez tem efeitos nefastos na economia, já que o consumo familiar e os fornecedores são diretamente afetados, num processo de retroalimentação.  Há obviamente, ainda, o risco de default, e os credores podem ver repentinamente seus ativos virarem pó.

Todos os dias, recebemos notícias de grandes empresas fazendo cortes de pessoal, como J&J, GoPro, JP Morgan, Deutsche Bank, Petrobras – essa, aliás, detentora da maior dívida líquida do mundo. Enquanto as coisas estão indo bem, a dívida é até desejável para se potencializar os retornos, mas basta uma desaceleração para que as empresas se vejam com a corda no pescoço.

O aumento no endividamento e a redução das receitas tornam novas captações cada vez mais onerosas, já que a capacidade de contração de dívidas se torna reduzida, fazendo com que a empresa entre numa espiral extremamente negativa.

Voltamos a repetir que o FED não deve demorar a reagir, reduzir as taxas de juros, iniciar o QE4 e, quem sabe, até mesmo aplicar taxas de juros negativas, para inflar os preços dos ativos e tentar recuperar o fôlego da economia – claro, não deu certo nas outras vezes, mas por que não daria nessa?! Vamos tentando, cada vez com doses maiores, uma hora dá certo… Ou não!

Continuamos recomendando aos nossos clientes que tenham exposição aos metais preciosos (ouro físico), uma vez que neles, ao contrário de outros instrumentos financeiros, não há risco de contraparte.

 

Rafael Siqueira e Marcelo López

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