Mara Bianchetti – Diário do Comércio
Os resultados financeiros acima do esperado apresentados pela Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A (Usiminas) nos últimos dias não passam de especulação em virtude das turbulências políticas vividas pelo País no decorrer da semana. Essa é a avaliação de analistas financeiros que acreditam que, assim como as ações da siderúrgica, o forte avanço da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o recuo do dólar também são temporários.
A ação preferencial da Usiminas fechou a sexta-feira negociada por R$ 1,36. O valor representa alta de 7,09%. Já na quinta-feira (3), os papéis da companhia registraram salto de 35,11%, o maior ganho desde janeiro de 1994.
De maneira semelhante, o Ibovespa apresentou o quinto avanço seguido na sexta-feira (4), com alta de 4,01%, depois de ter avançado 5,12% um dia antes, quando atingiu a maior pontuação desde 24 de novembro de 2015. Esse também foi o maior avanço diário desde 2009.
O dólar, por sua vez, fechou em queda novamente e encerrou a sexta-feira com a menor cotação do ano: R$ 3,76. O valor indica queda de 1,09%. Na semana, o recuo foi de 5,93% – maior baixa semanal desde outubro de 2008. No mês e no ano, há desvalorização acumulada de 6,06% e 4,74%, respectivamente.
Para o analista da Up-Fide Research, Pedro Galdi, a elevação dos papéis da Usiminas e a movimentação da bolsa na última semana foram influenciadas pelas recentes notícias acerca da política brasileira. “O mercado financeiro não gosta do PT (Partido dos Trabalhadores), não gosta da presidente Dilma Rousseff e não gosta do Lula. Então, quanto mais acuados eles estiverem, mais o mercado vai se movimentar e se reverter”, resume.
Na manhã de sexta-feira, a Operação Lava Jato lançou nova fase da investigação tendo como alvo o ex-presidente, contra o qual foram expedidos mandados de condução coercitiva e busca e apreensões, para apurar possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro do esquema envolvendo a Petrobras.
“As pessoas esperam que essas notícias aumentem a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff e que o processo de impeachment volte à tona. Tudo isso tem sido bem recebido pelo mercado, que entende que uma troca no governo pode trazer de volta a confiança e a retomada da economia do País. Mas não é garantia de nada”, diz.
Por isso Galdi pondera que é preciso ter cuidado com os investimentos e sugere que quem tenha prazo aproveite para reavaliar sua carteira. “Esse também não é o momento de comprar essas ações. Trata-se de um aumento surreal e irracional que deve ser avaliado e ponderado. Se amanhã sair na mídia que o governo não vai cair, os preços voltam a despencar também”, completa.
O gestor de fundos da L2 Capital Partners, Marcelo López, concorda que os aumentos são especulativos e os avalia como desproporcionais à real situação da Usiminas. “Primeiro porque o setor siderúrgico não vai bem e segundo porque a própria empresa tem enfrentado problemas internos e de caixa muito sérios”, afirma.
No entanto, López pondera que há o lado positivo das especulações – seja nas ações da companhia, no mercado financeiro como um todo ou na própria queda do dólar. “Existem os dois lados: o de compra e o de venda. É preciso monitorar a situação bem de perto para o aparecimento de boas oportunidades, sempre focando no longo prazo. Mas é preciso lembrar que nada mudou na economia e o PT ainda está no poder. E, mesmo que saia, quem garante que as mudanças vão surgir?”, conclui.
