Parte 1 de 3: Conversa com Stanley Druckenmiller

Semana passada estive em uma Conferência privada em Nova Iorque, onde estavam, dentre outros, Stanley Druckenmiller e Bill Ackman (quando esse fez seu primeiro pitch de compra da Starbucks e anunciou que havia investido na empresa).

Sempre admirei Druckenmiller e ele foi uma das pessoas que me fizeram entrar nesse ramo. Sua clareza e simplicidade ao conversar se destacam em meio a vários outros gestores e economistas. Ele tem sem dúvida o melhor track record no setor. Por 30 anos, entregou resultados médios na casa dos 30%, sem nunca ter tido uma queda anual. Realmente impressionante!

Ele era o gestor de fundos do Quantum Fund, de George Soros, quando esse fez sua aposta bilionária contra a libra esterlina. A tese de investimento e a posição inicial foram de Druckenmiller – Soros gostou tanto da tese que resolveu investir todo o patrimônio do fundo nesse trade e ainda alavancar, o que fez com que eles ganhassem mais de US$1 bilhão com essa posição em um curto espaço de tempo. Druckenmiller veio com a tese, Soros levou a fama – sem dúvida, também merecida.

Druckenmiller é famoso por mudar suas posições rapidamente, sem criar vínculos ou apegos emocionais com elas. É um trader, em sua essência. Segundo o próprio, “provavelmente, uma dos meus maiores ativos nesses últimos 30 anos é que eu sou bastante “cabeça-aberta” e posso mudar minha opinião rapidamente”.

Existem vários casos que eu poderia mencionar, mas o mais emblemático e recente foi com o ouro – eu, particularmente, acompanhei esse de perto, pois estava investido no metal. No final de 2017, Druckenmiller havia posicionado seu Family Office, o Duquesne Capital Management, em ouro. Não somente em ações, mas também em calls (opções de compra) – foi um investimento bastante arrojado, eu diria. Horas após o resultado das eleições, ele já havia vendido toda a sua posição e disse que os motivos pelos quais ele comprou, não estavam mais lá e manter essa posição não fazia mais sentido. E assim, sem a menor dor na consciência, ele resolveu vender. Ao final de janeiro, ele já havia refeito sua posição e comprado mais ouro.

Muitas pessoas esperam ansiosas pelo seu formulário 13-F – os formulários 13-F são aqueles em que os maiores gestores do mundo divulgam suas posições em ações americanas para a SEC (a CVM americana). Druckenmiller diz que isso não funciona para as pessoas que querem acompanhá-lo, pois, quando os formulários forem reportados à SEC, ele provavelmente já terá mudado de posição.

Escreverei três artigos essa semana e os publicarei nos próximos dias sobre as visões dele sobre mundo, trading, política e, claro, sobre o Brasil. Esse será o primeiro da série. Pois então, vamos direto ao assunto.

Segundo Druckenmiller, estamos fazendo uma transição de uma situação em que o dinheiro era praticamente “de graça” para uma em que há um custo, embora pequeno. Essa mudança tornará o mundo bem diferente daquele ao qual estamos acostumados e as consequências serão imprevisíveis (embora tenha algumas posições interessantes).

Assim que os balanços dos Bancos Centrais (BCs) começarem a diminuir, ou seja, quando a liquidez injetada ao longo da última década for retirada dos mercados, e ele acredita que isso acontecerá rapidamente, as taxas de juros devem começar a subir com mais força. O FED já está enxugando o dele consistentemente e a um ritmo crescente, o BC Europeu deve começar em dezembro e o Banco Central Japonês também está em processo de contração monetária.

Obviamente, apesar de ele não ter falado nada a respeito, eu imagino que o Banco da Inglaterra não conseguirá suprir sozinho toda essa “oferta” que está saindo do mercado e que as taxas de juros realmente começarão a subir – aliás, já vêm subindo há algum tempo.

Mas isso não deveria ser uma grande notícia – até mesmo o FMI e o BIS (Bank for International Settlements) já haviam se pronunciado a respeito e estamos vendo os efeitos dessa alta de juros em vários mercados, a começar pelos mais fracos (ou mais especulativos): criptomoedas desmoronando, ações de empresas com alto custo de capital caindo, mercados emergentes sofrendo, etc.

Ele disse que Paul Volcker, presidente do FED de 1979 a 1987, teve que lidar com uma alta inflação e fez de tudo para combatê-la. Já Ben Bernanke, que comandou o BC americano de 2006 a 2014, imaginou que haveria deflação nos Estados Unidos e fez de tudo para combatê-la – uma espécie de Don Quixote, já que a deflação foi somente imaginária.

O mal que Bernanke fez ao adotar políticas de estímulo é irreparável e destruiu a maneira como o capitalismo funciona, causando um mau comportamento dos agentes de mercado, que desprezaram o risco e se fixam somente no retorno dos investimentos. Quando o crash vier, segundo ele, vários problemas estruturais aparecerão.

A conversa foi bastante proveitosa e continuo na próxima edição contando um pouco mais sobre esse empolgante encontro.

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