Bolha do absurdo inimaginável

Estamos vivendo em um período sem precedentes na história e a insanidade parece não ter fim – nem consequências. Os bancos centrais mais uma vez ligaram as impressoras de dinheiro a uma velocidade jamais vista e “resgataram” os mercados de um bear market. Como eu gosto de dizer, o Fed tem um mandato duplo: S&P 500 e Dow Jones. Agora, podemos adicionar mais um: o Nasdaq.

A bolha inflada pelo Fed no final da década de 90 para não deixar que a Goldman Sachs tivesse um prejuízo com os títulos do México culminou no crash do Nasdaq. Para evitar um pequeno mal-estar no mercado, o banco central americano então inflou outra bolha, dessa vez maior, a dos imóveis. Essa, que quase trouxe abaixo todo o mercado financeiro mundial, foi resgatada pelo Fed por meio de mais outra bolha, a bolha de tudo, que quase estourou em 2018, mas atingiu seu ápice em fevereiro desse ano. 

No final de março, parecia claro que o fim estava próximo – até que o Fed apareceu para resgatar os mercados uma vez mais. Como todo viciado que precisa de doses cada vez maiores para continuar seu “barato”, assim é o mercado financeiro, e a autoridade monetária teve que administrar uma dose cavalar para evitar um ajuste que já passou da hora de acontecer.

O balanço do Fed, que estava abaixo de US$4 trilhões em fevereiro, disparou para quase US$7 trilhões agora. Vamos ver o custo dessa brincadeira mais pra frente, mas essa nova bolha, a bolha do absurdo inimaginável, vai causar um problema enorme por não haver mais possibilidade de resgate.

Não preciso entrar nos detalhes dos piores dados econômicos da história, mas gostaria de mencionar alguns absurdos. Começando pela Hertz, famosa locadora de veículos que declarou falência há alguns dias. Suas ações estão disparando e já subiram mais de 5 vezes na última semana. Ela tem uma dívida de quase US$21 bilhões e um valor bursátil, após essa alta inimaginável, de menos de US$800 milhões. 

E é claro que esse problema não respingará na GM e Ford, que venderam bilhões de dólares em carros para a locadora e ainda terão que lidar com um mercado inundado de carros usados liquidados pela Hertz, jogando os preços para baixo. Lembrando que GM está a um pequeno passo de um downgrade que a tornará high yield, enquanto a Ford já está lá. 

Mas se fosse somente a Hertz, poderíamos achar outra justificativa. Infelizmente, a insanidade está em todos os lugares. A JC Penney, outrora famosa dona de lojas de departamentos, pediu falência há pouco e viu suas ações dispararem…

Também vemos a Chesapeake, famosa empresa do setor de gás natural, cuja falência é iminente, subindo mais de 3x nos últimos dias.

Será possível recuperar essas empresas? Talvez, mas o custo para o acionista será brutal, com diluições homéricas, possivelmente acima de 99%. E por que essas ações, juntamente com várias outras, estão disparando? Na minha opinião, existem duas razões: I) parte do dinheiro impresso pelo Fed foi para as pessoas nos EUA, que agora, em alguns casos, tiveram um aumento real de renda e direcionaram grande parte desses recursos para o mercado acionário – basta ver o número de contas abertas no Robin Hood nos últimos 3 meses; II) a put do Fed, que aparentemente não deixa os mercados caírem, está causando um moral hazard sem proporções.

Observamos com cautela a volta do otimismo e vários analistas justificando as recentes altas, ou pelo menos tentando, o que me sugere que o otimismo está de volta e os riscos saíram pela janela. Grandes gestores como Carl Icahn e Warren Buffett não compraram nada – aliás, venderam bastante durante esse período.

Estamos vendo a bolha do absurdo inimaginável tomar proporções gigantescas. Acredito que o universo esteja dando uma chance a quem não conseguiu sair dos mercados no começo do ano, de fazê-lo agora e ajustar seu portfólio. Como falei no final do ano passado, falarei novamente agora – esse não é um mercado baseado em fundamentos, é um mercado baseado em fluxo de dinheiro. Trade carefully.

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