Cannabis – é hora de comprar?

A indústria da cannabis está crescendo no mundo. Nos países onde ela é licenciada, o boom é visível. Várias empresas estão correndo para ingressar nesse mercado, numa euforia que lembra as criptomoedas. Somente no Canadá, existem centenas de empresas já operando e outras centenas com pedidos de aprovação pendente no Health Canada, departamento responsável pela saúde pública de lá.

E não é para menos, os IPOs de empresas do setor estão indo de vento em popa, com altas expressivas e multimilionários sendo feitos da noite para o dia. Com desculpas pela brincadeira, mas está todo mundo rindo nesse setor, tanto empresários quanto usuários, e a fome por mais negócios está deixando todos embriagados.

De acordo com o relatório da ONU, esse é um mercado de cerca de US$150 bilhões por ano e aproximadamente 3,8% da população adulta é usuária, ou seja, são quase 200 milhões de pessoas, o que não é nada mal para um mercado consumidor.

É na União Europeia que se encontra a maior oportunidade de crescimento no setor, com uma população superior a 500 milhões de habitantes e a expectativa de pleno apoio governamental para o mercado medicinal da cannabis.

Prohibition Partners, uma consultoria setorial baseada em Londres, estima que esse mercado pode chegar a €36 bilhões por ano, se todo o continente aprovar o uso medicinal da planta. Como era de se esperar, é na Alemanha que existe a maior oportunidade.

O Health Canada estima que o consumo da erva para uso medicinal no Canadá, onde o mercado vem crescendo bastante desde 2014, chegará a CAD1,3 bilhão em 2024. É esperado que ele seja o primeiro grande país de primeiro mundo a legalizar o uso recreativo da cannabis. Em um relatório produzido pela Deloitte, projetava-se lá um mercado entre CAD1,8 bilhão e CAD4,3 bilhões em 2019.

Além disso, é esperado um crescimento em substituição a alguns produtos hoje usados pelo público adulto, como bebidas alcoólicas e energéticos.

Obviamente eu reconheço os benefícios de alguns remédios à base de cannabis e do alívio que trazem aos que dele necessitam. Também entendo que seja um mercado em franco crescimento – claro, pois até pouco tempo, era ilegal e agora está sendo legalizado. Por fim, também entendo que o mercado é pequeno hoje e que o espaço para crescimento é enorme, com outros países aderindo à legalização e novas aplicações para a cannabis sendo descobertas.

Mas com a fama que tenho de estraga-prazeres, não podia deixar de mencionar os absurdos no setor.

Em primeiro lugar, nenhuma árvore cresce até o céu. Para atingir o crescimento desejado, será necessário investimento pesado em P&D e um bom tempo para maturação dos produtos. Como esse mercado ainda é novo, poucos estudos foram publicados até agora, de sorte que há o risco de novos estudos não comprovarem os benefícios e a eficácia ressaltados pelos produtores.

Segundo, ainda existe muito preconceito sobre o uso da erva e aprovações podem demorar mais do que o previsto, impactando o fluxo de caixa de várias companhias. Mais ainda, pode ser que não haja aprovação de novos produtos ou mesmo a aprovação do uso recreativo.

Terceiro, podem aparecer novos produtos de diferentes plantas que substituam ou compitam com a cannabis. Ela própria compete consigo mesma, quando alguém que faz uso recreativo e não vê a necessidade de continuar com o uso medicinal (mais lucrativo). Pode até mesmo haver um aumento da competição entre mercado legalizado e o informal.

Por último, e o que realmente nos interessa, os valuations das empresas no setor estão fora de órbita. Talvez algumas resistam (com preços mais baixos), mas a maioria tende a desaparecer ou diminuir bastante de tamanho. São centenas de empresas adentrando o setor de uma só vez, o que implicará certamente em uma seleção interessante de players.

A comparação com as moedas virtuais é praticamente impossível de não ser feita. Há um ano todos estavam investindo em criptomoedas, convictos de que o valuation das moedas iria disparar, mesmo sem disporem de qualquer métrica minimamente razoável para estimar um “preço justo” para elas. Em dezembro elas atingiram seu pico e, em pouco tempo, já haviam caído pela metade.

Não dá pra saber onde é o pico do investimento em cannabis, mas eu suspeito que não esteja longe. Estou indo para o Canadá em outubro, onde pretendo descobrir mais sobre o assunto. Na verdade, minha viagem será focada em reuniões com empresas de urânio, mas o assunto cannabis é interessante e merece atenção. Já vou adiantando que não pretendo fazer nenhuma due diligence nos produtos, isso eu deixo para os “experts” no setor (espere para ver a versão “gourmet” da erva).

Na próxima semana, vou tentar falar um pouco mais sobre o setor e uma oportunidade de investimento (via puts ou venda a descoberto) que estou estudando. Avisarei a todos pelo Twitter (@malopez1975) caso chegue a uma conclusão.

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