A relação ouro-petróleo (gold-oil ratio) é um indicador macroeconômico que compara o preço do ouro com o preço do petróleo bruto, mostrando quantos barris de petróleo podem ser adquiridos com uma onça troy de ouro. Esse índice oferece um contexto valioso, pois o ouro é tradicionalmente visto como uma reserva de valor e uma proteção contra a incerteza econômica, enquanto o petróleo está intimamente ligado à atividade industrial e à demanda global.
Quando o ratio se encontra elevado, isso normalmente reflete temor nos mercados, crescimento global enfraquecido ou queda na demanda por energia — condições que costumam levar os investidores a buscarem ativos de segurança (safe-haven), como o ouro. Em contrapartida, um ratio baixo tende a surgir em períodos de expansão econômica, quando a demanda por petróleo cresce e as expectativas inflacionárias estão elevadas.
Como ilustra o gráfico abaixo, essa relação costuma oscilar entre 15 e 25, e desvios significativos dessa faixa podem indicar que uma das commodities está subavaliada em relação à outra.

Investidores e analistas utilizam o gold-oil ratio para captar o sentimento de mercado e identificar oportunidades de valor relativo no universo de commodities. Movimentos acentuados nesse indicador podem sinalizar mudanças nas expectativas de inflação, aumento do risco geopolítico ou alterações na dinâmica da demanda global.
Naturalmente, como qualquer indicador, ele não deve ser usado de forma isolada como ferramenta de investimento. O ideal é interpretá-lo como uma ferramenta auxiliar para compreender a relação entre ativos financeiros e ativos reais no contexto da economia global.
Dito isso, excetuando o período de lockdown da COVID-19, quando os preços do petróleo chegaram brevemente a território negativo, essa relação nunca esteve tão alta quanto agora. Historicamente, quando o índice ultrapassa 25, ele costuma indicar que o petróleo está subavaliado em relação ao ouro. Não diria que “desta vez é diferente”, mas, no cenário atual, o petróleo parece extraordinariamente barato quando comparado ao ouro.
Não se trata aqui de “marcar um fundo”, afinal isso só se confirma retrospectivamente, contudo, o contexto sugere que o petróleo pode oferecer uma relação risco-retorno atraente. E qual seria, a meu ver, a melhor forma de se posicionar diante desse cenário? Por meio das empresas de perfuração offshore.
Essas companhias são altamente alavancadas ao preço do petróleo e, atualmente, estão sendo negociadas a valuations ainda mais deprimidos do que a própria commodity. Se os preços do petróleo se recuperarem, o offshore drillers poderão viver um ciclo de forte valorização.
O ambiente macroeconômico atual reforça a ideia de que o petróleo está subavaliado. Embora os bancos centrais tenham, na maioria, pausado o ciclo de alta de juros, e alguns até estejam cortando taxas, a inflação permanece persistente em várias regiões, enquanto a demanda por energia demonstra notável resiliência.
Paralelamente, tensões geopolíticas persistentes — incluindo a instabilidade no Oriente Médio e as transformações nas cadeias globais de suprimento — adicionam uma camada extra de complexidade ao mercado energético. Esse conjunto de fatores cria um pano de fundo em que uma reprecificação do petróleo pode ocorrer mais rápido do que o consenso imagina.
As empresas de perfuração offshore, em particular, tendem a se beneficiar desproporcionalmente nesse cenário. Após quase uma década de subinvestimento, a capacidade global offshore está limitada e os dayrates das plataformas vêm subido consistentemente.
Muitas dessas companhias reorganizaram seus balanços após a pandemia e agora estão bem-posicionadas para gerar fluxo de caixa livre mesmo com preços moderados do petróleo. Se a commodity subir de forma mais expressiva, essas companhias poderão experimentar expansão significativa de margens e reavaliações positivas (re-ratings).
Como sempre, timing e gestão de risco são fundamentais. Operações ligadas a commodities tendem a ser, por natureza, voláteis, e o sentimento de mercado pode mudar abruptamente. Ainda assim, ao combinar os sinais históricos do gold-oil ratio com os fundamentos atuais do mercado de energia e de perfuração offshore, o quadro se torna bastante convincente. Para investidores dispostos a tolerar alguma volatilidade, essa pode se revelar uma oportunidade assimétrica interessante no mercado atual.
Disclaimer
Este texto foi elaborado pelo autor com o objetivo exclusivo de fornecer informações gerais e compartilhar perspectivas de mercado e estratégias. As informações contidas neste texto não devem, em hipótese alguma, ser interpretadas como uma recomendação de investimento, aconselhamento financeiro, oferta ou solicitação para a compra ou venda de quaisquer valores mobiliários, produtos financeiros ou serviços.
As opiniões aqui expressas são exclusivamente do autor e refletem suas análises e interpretações pessoais, podendo ser alteradas sem aviso. É altamente recomendável que os investidores consultem seus próprios assessores financeiros e realizem suas próprias investigações independentes antes de tomar qualquer decisão de investimento. Lembramos que o desempenho passado não é garantia de resultados futuros e que todos os investimentos acarretam riscos, incluindo a potencial perda do capital investido.
Adicionalmente, o autor pode ter ou negociar, em benefício próprio ou em nome de fundos sob sua gestão, os ativos financeiros mencionados neste texto. Ao receber esta comunicação, o destinatário reconhece e concorda que não deve se basear exclusivamente nas informações aqui contidas para a tomada de decisões de investimento.